São Paulo, 23 nov (EFE).- O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva reafirmou sua vontade de ser candidato nas eleições de
2018 e denunciou uma "maioria fascista" no Congresso Nacional que tenta
"se desfazer" do Brasil através de privatizações, em entrevista à
Agência Efe.
Citado em vários escândalos de corrupção, o
ex-governante, condenado a nove anos de prisão em primeira instância e
com outros seis processos abertos, se vê como "o candidato com maior
perspectiva de ganhar as eleições no Brasil", apesar de uma condenação
em segunda instância poder deixá-lo inabilitado.
"O PT não vai abrir mão de um candidato que tem
perspectivas de ganhar para tentar criar um candidato novo. Eu gostaria
que a gente tivesse dezenas e dezenas de pessoas preparadas no PT para
ser candidatas, mas o partido entende que nesse momento a minha
candidatura é a melhor coisa que pode ajudar o Brasil, pode ajudar o PT e
sobretudo pode ajudar o povo trabalhador brasileiro", comentou Lula em
entrevista à Efe em São Paulo.
Presidente entre 2003 e 2010, o ex-sindicalista
esclareceu que antes de ser candidato quer provar sua inocência, e
ressaltou que "não é a primeira vez na história da humanidade que os
setores mais reacionários, os setores de direita, perseguem alguém".
Além de uma possível vitória nas urnas, Lula
reconheceu a necessidade do apoio do Congresso para governar no Brasil e
não descartou repetir acordos "programáticos" com alguns partidos de
centro e direita, muitos dos quais apoiaram o impeachment da sua
sucessora, Dilma Rousseff.
"A aliança você faz de acordo com o resultado
eleitoral. Você pode até ganhar uma eleição sem fazer nenhuma aliança
com partidos políticos. Agora, para governar, você precisa construir a
maioria", destacou.
"As pessoas que dizem que não vão fazer
aliança nenhuma simplesmente não vão governar", acrescentou Lula, que
ressaltou a necessidade de "convencer o povo que ele precisa melhorar a
qualidade do Congresso para melhorar as conquistas que precisa".
Líder em todas as pesquisas de intenções de
voto, Lula atacou o plano de privatizações proposto pelo governo do
presidente Michel Temer, que assumiu as rédeas do país há um ano após a
cassação de Dilma Rousseff, e condenou a especulação financeira no país.
"Aqui em vez de fazer investimentos e gerar
emprego e gerar riqueza, eles vão vendendo as coisas que não são deles, e
vão vendendo sem consultar o povo. Construíram uma maioria fascista no
Congresso Nacional e acham que podem se desfazer do Brasil", lamentou.
Sobre o processo de impeachment, Lula
esclareceu que não perdoou os políticos que respaldaram a cassação de
Dilma, mas os cidadãos que se mostraram a favor da saída de sua afilhada
política.
"O que eu estou perdoando é que os golpistas
não fizeram o golpe apenas porque eles quiseram, eles tiveram o apoio de
uma parcela da sociedade. Essa gente que foi para a rua, essa gente que
bateu panelas", afirmou o ex-presidente.
"Essa gente são eleitores brasileiros que nós
precisamos respeitar. Essas pessoas não são inimigas porque num
determinado momento foram contra a gente (...). É possível lembrar que a
gente pode conquistar de volta essa gente para um projeto para o
Brasil", completou.
Lula admitiu que um dos seus erros políticos
foi não ter conseguido aprovar a reforma tributária e reconheceu que seu
governo "poderia ter evoluído mais nas questões sociais", embora tenha
frisado que, se retornar ao poder, finalizará as tarefas pendentes.
Segundo indicou à Efe, tentará aprovar "um
referendo revogatório para que a gente possa governar o Brasil" e, ao
contrário de 2002, fará uma carta dirigida ao povo e não ao mercado
financeiro.
Em nível internacional, Lula destacou um
"conservadorismo no mundo todo", que ficou evidente, segundo disse, com a
eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, mas considerou que os
setores progressistas democráticos têm "muitas condições de voltar a
ganhar as eleições na América Latina".
Com 72
anos e apesar de estar cercado pela Justiça, Lula garantiu sentir-se
"muito feliz" com tudo o que conseguiu até o momento e salientou que
"ninguém consegue sobreviver na política se não for um construtor de
amizades, um construtor de boas relações". EFE