Por Pedro Fonseca
A Polícia Federal prendeu
na manhã desta quinta-feira o presidente do Comitê Olímpico do Brasil
(COB), Carlos Arthur Nuzman, em desdobramento de investigação sobre
suspeita de compra de votos na eleição que escolheu o Rio de Janeiro
como sede dos Jogos de 2016, informou a PF.
Além de Nuzman, o ex-diretor do COB e do Comitê Rio
2016 Leonardo Gryner também foi preso de forma temporária, acrescentou a
PF em comunicado.
"Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa", disse a Polícia Federal.
Nuzman, de 75 anos, já havia sido alvo de mandado de
busca e apreensão em sua casa no Rio de Janeiro e levado à PF para
prestar depoimento no início de setembro em operação deflagrada pela PF e
o Ministério Público Federal em parceria com a Procuradoria francesa.
As autoridades dizem que Nuzman foi o “agente
responsável” por viabilizar repasse de propina do grupo criminoso do
ex-governador Sérgio Cabral para a compra de votos de dirigentes
africanos na eleição de 2009 do Comitê Olímpico Internacional (COI) para
escolha da sede dos Jogos de 2016.
Nuzman, que também foi o presidente do Comitê Rio
2016, teve bens bloqueados pela Justiça Federal e fora proibido de sair
do país até a conclusão das investigações da chamada operação Unfair
Play, que resultou em bloqueio de ativos de suspeitos no total de 1
bilhão de reais.
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal, a organização criminosa liderada por Cabral, que está preso
desde o ano passado no âmbito da Lava Jato, comprou o voto do então
presidente da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf), Lamine Diack,
por 2 milhões de dólares, apenas três dias antes da votação de 2009.
O dinheiro teve origem no esquema de corrupção e
propina em contratos de empresas prestadoras de serviços com o governo
do Rio de Janeiro, pelo qual Cabral recebeu mais de 100 milhões de
dólares em propina, de acordo com o MPF.
Nuzman, que é acusado de ter sido intermediário do pagamento, nega ter cometido irregularidade.
Em defesa por escrito entregue ao Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, advogados do dirigente disseram que a candidatura
do Rio sagrou-se vencedora "por mérito próprio", e que Nuzman atuou
apenas na qualidade de presidente do COB e no "estrito cumprimento de
suas funções", sem o cometimento de qualquer ilegalidade.
Apesar de as investigações terem apontado até o
momento pagamento direto a apenas um então membro do COI, outros
eleitores da votação olímpica podem ter sido influenciados ou até mesmo
recebido recursos por parte de Diack para também votar na candidatura do
Rio, de acordo com o MPF.
Segundo os procuradores, o senegalês Diack era muito
influente entre membros africanos do COI, que costumam votar em grupo e
seguir sua orientação, o que indica que outros votos podem ter sido
manipulados em consequência do esquema de corrupção.
O Rio foi eleito sede dos Jogos Olímpicos em uma
votação em que derrotou Chicago, Tóquio e Madri. Na votação final,
contra a cidade espanhola, a candidatura carioca obteve um triunfo com
margem folgada, 66 a 32 votos.