BRASÍLIA,
DF (FOLHAPRESS) - O promotor Cássio Sousa Lima, que ouviu no fim de
semana o adolescente de 14 anos que matou dois colegas e feriu outros
quatro em Goiânia disse que ele agiu com "extrema violência e frieza".
Na
representação apresentada à Justiça, Sousa Lima afirma que constatam-se
indícios "mais do que suficientes" para pedir a internação provisória
do garoto por 45 dias.
"No
presente caso, é evidente a extrema violência e frieza no planejamento e
execução da conduta típica, como também o considerável número de
vítimas atingidas, assim, a medida se perfaz em imprescindível
instrumento acautelador social, com o fim de evitar-se a prática de
novos atos infracionais graves, resguardando-se a ordem pública", afirma
o promotor.
Para
ele, a internação é necessária para que o jovem "se conscientize da
gravidade do ato infracional praticado, sob pena de, no caso de
liberação, caracterizar-se um verdadeiro estímulo para a prática de
novas infrações".
A
defesa do jovem pediu para que ele não seja transferido do local em que
está apreendido desde sexta-feira (20), dia em que atirou nos colegas,
até que seja ouvido pelo juiz.
Para
tentar evitar que o garoto seja condenado à punição máxima prevista no
ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) -três anos de internação-, a
defesa pretende alegar que ele nunca teve nenhum caso de violação à lei e
que tem uma família estruturada.
Mesmo
que seja condenado à punição máxima, o adolescente poderá seguir uma
vida normal depois que cumprir a medida socioeducativa.
"Para
efeito criminalístico, não conta como antecedente, só como desvio de
personalidade", afirma o promotor Cássio Sousa Lima, que atuou no caso
durante o plantão do final de semana.
A
chamada "bancada da bala" do Congresso quer usar a tragédia de Goiânia
para pressionar que a PEC (proposta de emenda à Constituição) da redução
da maioridade penal entre na pauta da CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) do Senado.
LUTO
A
tragédia de sexta-feira ainda provocava comoção neste domingo. A faixa
que convidava para a feira de ciências que aconteceria no sábado (21)
dividia espaço na fachada do Colégio Goyases com cartazes de
solidariedade às famílias das vítimas.
O episódio também foi abordado na missa da igreja Santo Inácio de Loyola, próxima à escola.
"Não
é momento de julgarmos nem condenarmos ninguém", disse o padre que
celebrou a missa da noite. "[A tragédia] serve para que todos nós
acompanhemos mais de perto nossos filhos."
Os diretores da escola Goyases se manifestaram pela primeira vez neste domingo.
"Essa lacuna deixada pelos ausentes será irrecuperável, diz um trecho do comunicado publicado nesta tarde.
A nota é assinada pela "Família Goyases", referência ao nome do colégio.
Os responsáveis pela escola dizem estar enlutados e pedem para que não se faça qualquer julgamento.
"Deixemos
de lado os julgamentos e vamos promover uma profunda reflexão na
sociedade, nas escolas e nos lares e sobretudo uma reflexão individual
perguntando o que podemos fazer para amenizar a dor desse momento e como
deveremos agir para evitar futuros fatos assim tristes", diz a nota.
A escola diz estar dando "total respaldo às famílias" e afirma que durante a semana será redefinido o calendário do ano letivo.
Como
terça-feira (24) é feriado em Goiânia por causa do aniversário da
cidade, pais de alunos dizem que já não haveria aulas nesta segunda
(23). A expectativa é que elas sejam retomadas na quarta-feira (25).