Relatório
da Polícia Federal aponta que o corretor de valores e delator Lúcio
Funaro, preso em Brasília, pagou ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
R$ 56,9 milhões mesmo depois de a Lava Jato ter sido deflagrada, em
março de 2014.
O
valor corresponde ao que foi registrado em planilhas apreendidas na
casa da irmã do corretor. "Não podemos afirmar que as mesmas
correspondem ao total das entregas de dinheiro efetuadas, mas apenas as
localizadas até o presente momento", diz o relatório de 184 páginas
datado do último dia 4.
Do
valor pago durante a Lava Jato, R$ 1,3 milhão foram entregues por
Funaro quando Cunha era o presidente da Câmara dos Deputados, em 2015.
As
informações extraídas de material apreendido foram comparadas com
declarações que o próprio Funaro forneceu à PF na fase de negociações
para seu acordo de delação.
As
planilhas foram apreendidas por ordem do juiz Vallisney Oliveira, da
10ª Vara Federal de Brasília. Nos papéis, Cunha é identificado pelo
apelido de "Bob".
Os
pagamentos, segundo o relatório que foi anexado à denúncia feita na
semana passada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra
o que chamou de "quadrilha do PMDB", ocorreram na maior parte das vezes
por entregas em espécie ao auxiliar de Cunha chamado Altair Pinto,
investigado em outras fases da Lava Jato.
Mais
pagamentos ocorreram por meio de depósitos a empresas e "laranjas"
vinculados ao doleiro Claudio Fernando Barbosa. Também houve entregas
por meio de Sidney Roberto Szabo, que trabalhou para o fundo de pensão
dos servidores da Cedae, companhia de águia e esgoto do Rio de Janeiro.
Funaro
fazia pagamentos de boletos em nome de empresas ou depositava em contas
de "laranjas", o que gerava um crédito dele junto ao doleiro, que
depois fazia o saque em espécie e gerava o caixa para a propina.
As
planilhas registram pagamentos de Funaro para Cunha desde 2011. Daquele
ano até 2015 há anotações de pagamentos de R$ 89 milhões para Cunha,
incluídos cerca de R$ 7 milhões pagos a outros políticos, mas que Funaro
considerou como recursos de Cunha, pois teriam ocorrido a pedido do
ex-deputado.
Também
entraram na conta R$ 30 milhões que Funaro recebeu de Joesley Batista,
da JBS, para repassar a políticos nas eleições de 2014.
Segundo
a PF, os pagamentos de Funaro para Cunha foram assim distribuídos: R$
920 mil em seis entregas ocorridas em 2011, R$ 13,6 milhões por meio de
34 entregas em 2012, R$ 16,4 milhões em 63 entregas no ano de 2013, mais
R$ 57,2 milhões no ano de 2014 e outros R$ 1,3 milhões por meio de 12
entregas no ano de 2015.
Em
2016, Cunha caiu em desgraça após ter sido afastado da presidência da
Câmara por decisão do então ministro do STF, Teori Zavascki. Meses
depois foi preso por ordem do juiz Sergio Moro.
GEDDEL
Em
outro relatório técnico, a respeito do ex-ministro Geddel Vieira Lima,
preso em Brasília após a descoberta de R$ 51 milhões em dinheiro em
endereço a ele relacionado, a PF também identificou registros de
pagamentos de Funaro.