Pré-estreia com todas as salas de cinema de um
shopping em Curitiba lotadas. No centro das atenções e passando pelo
tapete vermelho, estava o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela
operação que é tema do longa “Polícia Federal – a lei é para todos”.
Escoltado por seguranças, o magistrado entrou na sala
sob aplausos acompanhado de sua esposa, Rosângela, e do magistrado
federal Marcelo Bretas. Na plateia, o Juiz de Direito se colocou em meio
a delegados, agentes policiais, procuradores e servidores do Ministério
Público e do Judiciário.
Durante o filme, Sua Excelência pode rir e aplaudir
em episódios considerados ilegais e arbitrários pela comunidade
jurídica, como, por exemplo, a divulgação de áudio entre a ex-presidenta
Dilma e o ex-presidente Lula. Curiosamente, à época, o juiz federal foi
duramente criticado. Em artigo, o Professor de Direito Processual Penal
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Geraldo Prado, perguntou: por que um juiz jogou às favas os escrúpulos e divulgou interceptações telefônicas ilegais?.
Após a divulgação dos áudios – os quais, mais tarde, foram revelados como clandestinos, uma vez que sequer havia autorização judicial para captar a conversa naquela data e horário – o magistrado pediu “desculpas”
ao falecido relator do STF Teori Zavascki, bem como a todos os
ministros Supremo Tribunal Federal. No último mês, contudo, o magistrado mudou o tom sobre o tema e passou a defender a legalidade da medida.
Sua posição de celebridade de red carpet,
porém, não passou despercebida no cenário jurídico. Nas redes sociais, o
Advogado, Procurador de Justiça aposentado e colunista do Justificando Roberto Tardelli resumiu
um sentimento de incredulidade – “Seria inacreditável, mas a vida
imitou a arte e exibiu seus bufões e seus juízes midiáticos, como nunca
antes na História deste país”.
Para ele, o filme mostra uma clara conotação
ideológica e que, por isso, exibe cenários contraditórios – “o filme é
deletério, porque celebra um crime cometido pelo Juiz Midiático, que
divulgou ilegalmente a conversa entre Lula e a então presidenta da
república”.
O filme retrata cenas que foram inspiradas em
imagens sigilosas pela lei, mas divulgadas exclusivamente para os
atores da Lava Jato pela própria polícia federal, a qual também
emprestou helicópteros para filmagens, bem como disponibilizou agentes.
Dentre as cenas exibidas estão a invasão da Polícia Federal na
residência do ex-presidente Lula e da falecida ex-primeira dama Marisa
Letícia no dia da condução coercitiva.
Tardelli afirma que o longa viola o direito
de defesa e criticou atores, diretores e demais agentes que participaram
da obra – “pior, o filme nega completamente a presunção de inocência,
garantia fundamental que a Constituição reserva até para os
participantes dessa aventura, que ainda cobrirá de vergonha aqueles(as)
que a integraram”.
O advogado ainda aponta a ironia de um filme
que se diz “contra a corrupção”, mas é financiado às escondidas, por um
declarado “investidor secreto” – “É de amarga ironia o filme, que
retrata uma história, teoricamente a combater a corrupção, mesmo que
seja ainda uma história parcial, na medida em que o filme nada mais é
que a histórias dos desmandos da primeira instância, ter financiadores
secretos”.
“Se não
houver uma pronta atuação da cúpula do Judiciário, via CNJ; se esses
juízes, notoriamente comprometidos com a figura profética de que se
investiram, não forem afastados da condução dos processos que os
autoconverteram em uma Liga da Justiça, adolescente e maniqueísta, toda a
Magistratura, expressão maior de nossa soberania e condição elementar
para um mínimo de civilidade, será atingida e os juízes poderão ser
transformados em meros animadores de auditório” – completou o jurista.