Mais de mil bombeiros seguem tentando conter o gigantesco incêndio florestal na região central de Portugal, que deixou pelo menos 62 mortos e provocou forte comoção no país.
Após um fim de semana com 40ºC em várias regiões do país, a temperatura
registrou leve queda, mas o incêndio, declarado no sábado (17) à tarde
em Pedrógão Grande, prosseguia na direção das regiões vizinhas de
Castelo Branco e Coimbra nesta segunda-feira (19).
O balanço oficial mais recente é de 62 mortos e 62 feridos,
incluindo cinco em estado grave, uma criança e quatro bombeiros. As
autoridades, no entanto, não descartam a possibilidade de encontrar
outras vítimas nas áreas devastadas pelas chamas.
O número de focos foi reduzido para 35 no domingo (18) à noite em todo o
país, mas os recursos mobilizados continuavam sendo praticamente os
mesmos.
"O risco de incêndio é máximo no centro", alertou a Proteção Civil.
Segundo o jornal Público, autoridades portuguesas afirmam que a situação
segue "preocupante", e agravada pelas condições meteorológicas
adversas, que dificultam o combate ao fogo.
Quatro aviões de combate ao incêndio da Espanha e três da França
chegaram ao país no domingo (18) para ajudar os bombeiros portugueses.
Nesta segunda (19) devem chegar dois aviões espanhóis e dois italianos,
assim como reforços terrestres, no âmbito do mecanismo europeu de
proteção civil, ativado a pedido de Lisboa.
Luto
"Portugal chora por Pedrógão Grande" ou "Em memória das vítimas" eram algumas das manchetes dos jornais.
"Como isto pode ter acontecido?", pergunta o Jornal de Notícias. "Por quê?", questiona o Público.
"Nossa dor é imensa, como nossa solidariedade com as famílias da
tragédia", afirmou no domingo o presidente Marcelo Rebelo de Sousa,
emocionado com a maior tragédia da história recente de Portugal.
"Temos uma sensação de injustiça, pois a tragédia afetou os portugueses
dos quais se fala pouco, de uma zona rural isolada", completou.
O fim do mundo'
De acordo com as autoridades, muitas vítimas morreram em seus veículos quando
se viram cercadas pelas chamas no momento em que passavam pela rodovia
nacional 236, que liga Figueiró dos Vinhos com Castanheira de Pera, no
sábado.
"Era verdadeiramente um inferno. Pensei que o fim do mundo havia
chegado. Não acreditei que sairia viva", contou Maria de Fátima Nunes,
que foi resgatada pelos bombeiros.
Corpos foram encontrados em casas localizadas em áreas isoladas. Os
moradores de pelo menos três localidades próximas a Pedrógão Grande
foram retirados de suas residências.
Algumas vítimas identificadas "morreram em suas casas, que não deixaram
a tempo", afirmou o primeiro-ministro António Costa, que pediu à
população que respeite as ordens de saída.
"Se deixar a minha casa, vai queimar tudo, pois não temos ninguém que
nos ajude", declarou Fernando Pais, um agricultor de 50 anos que morava
com a mulher e o filho em Trespostos, perto da localidade de Campelo.
A família Pais não abandonou sua casa e luta sozinha contra as chamas com uma simples mangueira.
"Conhecia várias vítimas. Uma amiga perdeu a mãe e a filha de quatro
anos porque não conseguiu retirá-las da parte de trás do carro", disse
Isabel Ferreira, de 62 anos, habitante da região.
A polícia determinou que uma tempestade seca provocou as chamas e descartou a possibilidade de incêndio criminoso.