Para “surpresa”
do governo, como definiu o próprio ministro-chefe da Secretaria Geral da
Presidência, Moreira Franco, a reforma trabalhista não foi aprovada na
Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. A derrota de ontem por 10
a 9 se consolidou com três votos de governistas: o peemedebista Hélio
José (DF), o tucano Eduardo Amorim (SE) e Alencar (PSD-BA).
O
Palácio do Planalto contava que teria 11 votos na Comissão, mas, de
última hora, saiu prejudicado na primeira derrota do conjunto de
reformas propostos pelo governo de Michel Temer (PMDB). Apesar do revés,
o texto - relatado pelo tucano Ricardo Ferraço - segue para a Comissão
de Constituição de Justiça (CCJ) e então para o Plenário, onde precisa
de maioria simples para ser aprovado. Antes, já havia tido aprovação na
Câmara e na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, presidida
por Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Moreira Franco reconheceu que o
resultado foi um “sinal ruim” que cria insegurança e dúvidas com relação
à recuperação da economia. Ele disse ainda que a parte da base que
votou contra “não cumpriu o compromisso”.
“Lamento
muito que essas pessoas, que causaram isso, não tenham dimensionado
essa sinalização (ruim para a economia). E mais, pessoas que se diziam
compromissadas”, afirmou.
O ministro descartou ainda que o
resultado negativo do Senado possa influenciar votos na Câmara, seja
para reforma da Previdência, seja para rejeitar possível denúncia da
Procuradoria-Geral da República contra Temer.
Para o presidente do
Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), a derrota foi fruto de falta de
articulação, em parte, pela ausência de lideranças que viajaram com o
presidente Temer para a Rússia.
“Podia ter adiado, mas o líder do
governo (Romero Jucá) preferiu, mesmo sabendo que poderia ter essa
votação da forma como foi, perdida por um voto, ele optou por manter o
calendário”, lembrou. O senador reafirmou seu compromisso de colocar a
reforma trabalhista em votação ainda neste semestre.
O próprio líder
do PMDB no Senado, Renan Calheiros tem feito críticas à reforma. Após o
resultado no CAS, ele disse que as mudanças agravam as circunstâncias
econômicas. Além do racha na bancada do PMDB, o próprio PSDB já dá
sinais de afastamento de Temer.
O senador Eduardo Amorim, voto decisivo na derrota no CAS, afirmou que é a favor da entrega de cargos e desembarque do governo.
Na
oposição, o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT), avaliou
que o resulto de ontem é sinal de que a reforma da Previdência jamais
passaria. “A trabalhista tem chance de ser derrota no Senado e se
voltar, a gente derrota na Câmara também. Governo vai ladeira abaixo.
Ele se sustentava porque tinha o mercado financeiro e votos no
Congresso. Agora estremeceu tudo”, apontou. Ele se referia à queda da
bolsa e alta do dólar após a votação na CAS.
Para o analista
político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía, a
derrota foi uma estratégia da própria base para valorizar seus votos e
abrir negociações com o governo. “Na minha avaliação isso representa um
jogo interno para negociar a posição no Plenário, sobretudo do grupo
ligado a Renan e do PSDB. Não é um voto contra a reforma”, avaliou. (com Agência Estado)
ISABEL FILGUEIRAS