RIO — O governo admite que a maré no julgamento do TSE é
desfavorável ao presidente Michel Temer. Se antes já havia um “script”
mais ou menos definido, dizem seus aliados, no qual valeria a tese da
separação das contas, o que salvaria Temer da cassação, agora o cenário
“está em aberto”. Ministros que tendiam a votar pela absolvição de
Temer, como Napoleão Nunes Maia, podem agora estar na direção contrária,
admitem governistas.
Antes
de divulgado o áudio da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer, a
tendência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era condenar a
ex-presidente Dilma Rousseff e absolver Temer. A maioria dos ministros
acreditava que não era papel da Corte agravar ainda mais a crise
política e econômica. Depois da delação da JBS, os ministros começaram a
fazer nova avaliação. Mesmo sem a inclusão das novas provas no
processo, ficou insustentável absolver o presidente na sessão marcada
para o próximo dia 6.
A solução mais fácil seria algum ministro pedir vista logo no início
do julgamento, abrindo o caminho para a situação ser resolvida na
política e tirando a tarefa do campo do Judiciário. No entanto mesmo
essa possibilidade tem se tornado remota, diante da pressão que cairia
sobre os ministros. Nos
bastidores, os ministros têm discutido se é o
momento de o tribunal ser protagonista das decisões em um momento de
crise — papel que o TSE nunca ousou cumprir antes.
Segundo avaliações de pessoas próximas, Temer não tem preocupação com
a possibilidade de sofrer impeachment. Mesmo com a profusão de pedidos
que chegaram à Câmara, cabe a Rodrigo Maia, até aqui forte aliado do
presidente, aceitar os pedidos. Ainda que ele venha a aceitar, dizem
aliados de Temer, hoje não há votos na Câmara para tirar o presidente do
cargo.
— Impeachment não é uma preocupação. Mesmo que haja, não existe hoje
voto suficiente para aprovar um impeachment contra o governo — diz um
assessor governista.