De uma coisa a saúde pública e privada vem confirmando a cada dia: é
errado pensar que a Chikungunya causa fortes dores apenas durante o
tempo que o vírus Chikv circula no corpo da pessoa que o contraiu.
Grande parcela dos doentes apresenta quadros mais sérios e persistentes,
como inflamação nas juntas, problemas de visão ou meningoencefalite,
espécie de meningite. Com cenário epidêmico já reconhecido, as redes de
saúde do Estado e município de Fortaleza se organizam para assegurar
atendimento a esses pacientes que até serem picados pelo mosquito
transmissor da enfermidade, o Aedes aegypti, não tinham doença crônica
ou autoimune. Um exemplo disso, é o caso do engenheiro civil, Cláudio
Pereira. Ele teve a doença em dezembro de 2016 e até agora sofre com as
suas consequências. "Ainda tenho limitações para me movimentar
normalmente e outras ações cotidianas. Precisei de reumatologista, fiz
exames e me deparei com um artrite braba que nunca tive", conta. Outra
que relata quadro parecido é a aposentada Telma Rocha. "Tenho muitas
dores e não posso nem segurar um lençol direito para forrar a cama,
estou com inchaço nas articulações. É bem complicado", lamenta.
O gerente da Atenção Primária, da Secretaria de Saúde do Município
(SMS), Rui de Gouveia, reconhece a situação e diz que, aliada às ações
de combate aos focos do mosquito, reforçadas nos últimos dois meses, a
gestão reestrutura sua rede farmacêutica, com regularização no
abastecimento dos 150 medicamentos essenciais da assistência básica,
principalmente o paracetamol e dipirona nas farmácias-polos e, até fim
de junho, nos sete terminais de ônibus da Capital. "Além disso,
organizamos um grupo de estudos com especialistas no Hospital Waldemar
de Alcântara e elaboramos um programa de aperfeiçoamento permanente para
os profissionais da rede", informa, explicando que isso significa que
todos aqueles que apresentarem quadro desencadeado pela Chikungunya como
as doenças autoimunes terão a garantia de avaliação, encaminhamentos
para os especialistas adequados, outros exames e tratamento.
De acordo com o boletim epidemiológico da SMS, entre janeiro e 4 de
maio desse ano, a Capital soma 5,4 mil confirmações da arbovirose, com
um óbito e outros dez em investigação. Os bairros com maior número de
infectados são Joaquim Távora, com 361; Montese, com 227; Antônio
Bezerra , 213; Álvaro Weyne, com 205; São João do Tauape, com 199 .
Fique por dentro
Transmissão pelo mosquito
O nome Chikungunya deriva de uma palavra em Makonde, língua falada por
um grupo que vive no sudeste da Tanzânia e norte de Moçambique.
Significa "aqueles que se dobram", descrevendo a aparência encurvada de
pessoas que sofrem com a artralgia característica. O CHIKV foi isolado
inicialmente na Tanzânia por volta de 1952. Desde então, há relatos de
surtos em vários países do mundo.
Nas Américas, em outubro de 2013, teve início uma grande epidemia de
chikungunya em diversas ilhas do Caribe. Em comunidades afetadas
recentemente, a característica marcante são epidemias com elevadas taxas
de ataque, que variam de 38% a 63%. No Brasil a transmissão autóctone
foi confirmada no segundo semestre de 2014, primeiramente nos estados do
Amapá e da Bahia.
A doença não é transmitida de pessoa para pessoa. O contágio se dá pelo
mosquito que, após um período de sete dias contados depois de picar
alguém contaminado, pode transportar o vírus CHIKV durante toda a sua
vida, transmitindo a doença para uma população que não possui anticorpos
contra ele.
O Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem aparência inofensiva,
cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas. Costuma
picar, transmitindo a enfermidade, nas primeiras horas da manhã e nas
últimas da tarde, evitando o sol forte. No entanto, mesmo nas horas
quentes ele pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Há suspeitas
de que alguns ataquem durante a noite. O indivíduo não percebe a picada,
pois não dói e nem coça no momento.