Fortaleza aparece com o maior índice médio de febre chikungunya no País, com 210,8 casos por 100 mil habitantes
No ranking do Ministério da Saúde, a Capital cearense aparece com 119,4 casos prováveis de dengue a cada 100 mil habitantes. Além disso, também consta com o maior índice médio de febre chikungunya, com 210,8 casos por 100 mil habitantes.
Joana Maciel
A preocupação com o avanço das doenças causadas pelo Aedes aegypti fez a
Prefeitura de Fortaleza reforçar as estratégias no combate aos focos do
mosquito. Na manhã de ontem, no Paço Municipal, o prefeito Roberto
Cláudio apresentou a nova campanha educativa da gestão. A ação tem como
objetivo reforçar o engajamento de todos os cidadãos para reduzir os
casos de dengue, zika e febre chikungunya. Apesar dos esforços na
Capital, o boletim da Semana Epidemiológica 15 do Ministério da Saúde
confirma, laboratorialmente, a segunda morte por febre chikungunya no
Ceará e apresenta Fortaleza com a maior incidência de casos prováveis da
doença entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes.
Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), de janeiro a
abril deste ano, já foram confirmados 5.483 casos de chikungunya em
Fortaleza. Em igual período de 2016, foram registrados 2.014 pacientes.
Já em relação à dengue, de janeiro a abril deste ano, 4.110 pessoas
foram diagnosticadas, contra 6.222 no igual período do ano passado.
No ranking do Ministério da Saúde, a Capital cearense aparece com 119,4 casos prováveis de dengue a cada 100 mil habitantes. Além disso, também consta com o maior índice médio de febre chikungunya, com 210,8 casos por 100 mil habitantes.
Durante coletiva no Paço Municipal, o prefeito Roberto Claudio rebateu
os dados e afirmou que a Capital teve uma redução nos números de dengue.
"Em Fortaleza houve o inverso. Tivemos uma queda severa de casos de
dengue, mas aumento da chikungunya. Até temos uma suspeita a ser
confirmada de que ainda há menos casos de dengue do que foi notificado. E
há mais casos de chikungunya, pois houve um problema de diagnóstico. Os
profissionais estavam treinados a identificar febre e dor no corpo como
dengue. Muitas das notificações da doença podem ter sido chikungunya",
ressalta.
Estratégias
Segundo levantamento da SMS, neste ano foram realizadas 12.810 ações com
a abordagem de 145.480 pessoas até abril de 2017. No ano passado, foram
feitas mais de 40 mil atividades educativas, quase 500 mil pessoas
foram abordadas no que diz respeito ao combate do mosquito Aedes
aegypti.
Neste ano, também foi criado o Comitê de Enfrentamento às Arboviroses
(doenças causadas por mosquitos), que se encontra semanalmente, com a
participação de mais de 50 representantes de diversos órgãos e
secretarias municipais, além de entidades privadas, fomentando ações
intersetoriais. Além disso, foi implementada atividade diferencial de
acolhimento específico em 19 postos de saúde, capacitação de 702
profissionais da saúde, mobilização de 12 mil idosos no programa
"Senhora Faxina", campanhas educativas em escolas, formação de 27
brigadas, supervisão semanal de todos os equipamentos públicos, criação
do selo "Escola Amiga da Saúde", que envolverá 790 instituições públicas
e privadas de Fortaleza, entre outras.
Ainda segundo o prefeito, a atenção ainda é redobrada quanto ao trabalho
de vistoria nas residências. "Em 81% dos casos de chikungunya que foram
identificados, o foco do mosquito estava dentro de casas ou comércios.
Então, a população precisa entender que o combate não é apenas
ambiental, mas domiciliar, principalmente. Por isso, a tarefa mais
eficiente é mobilizar a dona de casa, o cidadão a fazer o seu papel
dentro da própria residência", afirmou o gestor.
O chefe do Executivo municipal também falou que vem sendo questionado
sobre a limpeza em pontos fixos de lixo na cidade. Ele destacou que o
tempo em que o lixo fica na rua é curto, impedindo o ciclo de reprodução
do mosquito. "Três dias é o tempo máximo para limpar um ponto de lixo.
Há uma falsa impressão que a rampa de lixo em vias públicas ou o ponto
de lixo seja o causador do mosquito".
No evento de lançamento da campanha foi assinado uma documento com oito
entidades públicas e privadas apoiando a luta contra o Aedes aegypti.
Para o médico infectologista Anastácio de Queiroz, a confirmação de uma
segunda morte por chikungunya é grave e pode dar prognóstico para
outras.
"Devem ter acontecido muitos óbitos que não foram notificados. É uma
doença com sintomas semelhantes a outras. Os casos graves notificados
devem ser avaliados com muito critério", alerta o infectologista.
Sobre o aumento de chikungunya na Capital, em nível nacional, o
especialista diz que a cidade tem prevenção, mas que não trabalha
sozinha. "Não podemos tomar como falha a situação de Fortaleza. Cada
cidade tem um perfil sobre os impactos", avalia Anastácio de Queiroz.
Estado
Segundo levantamento do Ministério da Saúde, o município de Farias
Brito, no sul do Ceará, é a localidade de maior incidência de dengue em
todo o Brasil. O município registra uma média de 1.527 registros, o
equivalente a 5 casos de dengue para cada 100 mil habitantes. Em geral, o
Brasil tem diminuído os números de arboviroses, como dengue, febre
chikungunya e infecção por vírus da zika nos primeiros meses de 2017, em
relação a igual período do ano passado. A dengue passou por uma redução
de 90,4% nos casos prováveis, enquanto a chikungunya caiu 68,1% e a
zika, 95,4%.
Contudo, Ceará e Roraima são os dois únicos estados brasileiros em que
as notificações de dengue sofreram um aumento no comparativo ao ano
anterior. Até 15 de abril de 2016, o Ceará registrou 13.548 ocorrências
prováveis da doença, enquanto em 2017 o índice já chega a 15.826
pacientes. Em relação à febre chikungunya, o Ceará também apresenta
crescimento nos números, indo de 4.294 possíveis casos para 17.012 em
2017.
Sobre a segunda morte por chikungunya no Ceará, a Secretaria da Saúde do
Estado (Sesa) informou, em nota, que "tem divulgado boletim semanal com
a atualização de informações sobre arboviroses". O próximo será
divulgado nesta sexta-feira (12) com a atualização de casos notificados e
óbitos.
Entrevista
Joana Maciel
Secretária da Saúde do Município de Fortaleza
Ações educativas reduziram casos
Como se situam as confirmações das doenças por pacientes?
O que sabemos é que, de 10 pacientes que apresentam sintomas da dengue,
dois são confirmados. Já da chikungunya, de 10 pacientes, sete são
confirmados.
As ações já praticadas nos anos anteriores foram válidas?
Se não fossem as ações de 2016, estaríamos com uma situação mais
alarmante. Nós temos que combater os criadouros de forma educativa. Nós
vamos reunir especialistas cearenses ainda esta semana para discutir o
aumento no número de casos, as ações e os impactos.
Os casos de dengue no Ceará ainda preocupam?
O número de casos de dengue não está aumentando. Nossa preocupação desde
o ano passado é com o número de casos de chikungunya. A arbovirose já
vinha aparecendo em outros momentos. Assim como a dengue, a chikungunya
vem crescendo de forma mensal nas regionais da Capital.
por João Lima Neto - Repórter
Diario do Nordeste