“Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:
Eu
errei. Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude
correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um
reconhecimento público que faço agora. Mesmo não tendo tido a intenção
de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de
cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar
minhas colegas. Sou responsável pelo que faço. Tenho amigas, tenho
mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de
tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém,
não sou.
Tristemente,
sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes
machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou
piadas. Não podem. Não são.
Aprendi
nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E
isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele. Este é o meu
exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.
A
única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a
sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança. Espero que
este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da
mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que
agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive
também a mudar.
Eu
estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas
necessária. O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai,
filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor”.
Foi desta forma que o ator José Mayer finalmente parou de mentir e assumiu a merda que fez – leia mais aqui . Acusado
de assédio sexual pela figurinista Su Tonani, inicialmente ele tentou
negar tudo dizendo que se tratava de alguém confundindo a ficção com a
realidade, já ele havia vivido um papel na novela A Lei do Amor
com o mesmo perfil cafajeste. Agora, ao escrever uma “carta aberta” a
seus colegas, ele tenta salvar o pouco que lhe restou de dignidade.
Tarde demais.
Quando
hoje pela manhã soubemos que figurinistas, diretoras, atrizes e outras
funcionárias da Globo se reuniram nos estúdios da emissora no antigo
Projac, em Jacarepaguá, para realizar um ato de solidariedade e apoio a
Su Tonani, ainda mais referendadas por postagens de atrizes graúdas em
termos de importância como Gloria Pires, Grazi Massafera, Bruna
Marquezine, Camila Pitanga e Taís Araujo, é óbvio que Mayer se viu
isolado. Mais ainda depois que a própria emissora soltou duas notas
oficiais duras – e dignas, diga-se de passagem – perante uma acusação
desse porte.
Certa vez, ele disse em uma entrevista que “o universo das novelas é doentio demais”. É, estamos vendo…
Na
boa: não dá para acreditar que Mayer, segundo suas próprias palavras,
não tenha tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar a garota.
Como é possível alguém que coloca sua mão na bu… de quem quer que seja e
diz que aquilo era um “desejo antigo” possa considerar isso como
“brincadeiras de cunho machista”??? Isso é desrespeito total, amplo e
irrestrito!!! Não tenha nada de “machista” e sim de sérios problemas de
caráter. A partir do momento em que ele usa sua “posição de galã” para
ultrapassar os limites de respeito e mesmo de civilidade, qualquer
justificativa ‘mimizenta’ perde completamente o sentido. Tanto isso é
verdade que em nenhum momento o tal de Mayer escreve claramente a
respeito de quais atitudes calhordas ele cometeu.
Pedir
desculpas depois de negar seu ato dá a sensação de que foi obrigado a
fazer isso – pela Globo? Pela mulher? Pela família e amigos? Por Buda? –
e isso tem muito mais a ver com uma tentativa de salvar sua carreira e
sua própria pele enquanto dá tempo do que simplesmente “Perdoem a minha
atitude”. Reconhecer a culpa somente quando se está em um beco sem saída
é coisa de gente que jamais se preocupou com os sentimentos de pessoas
que convivem ao seu redor.
O
que está em jogo é muito mais que “machismo x feminismo”. Trata-se de
reafirmarmos o nosso compromisso de respeito a todos aqueles que surgem
em nosso cotidiano, seja por tempo longo ou por míseros segundos. É por
ignorarmos uma atitude tão simples que nosso planeta está à beira de um
novo Apocalipse.
Pense nisso…