sábado, 30 de julho de 2016

Estudo avalia os riscos cardiovasculares

A síndrome metabólica é um conjunto de alterações que elevam o risco cardiovascular e a taxa de mortalidade. O excesso de gordura na região abdominal, níveis elevados de triglicérides, alterações nos valores do colesterol, glicemia, pressão arterial e aumento de circunferência da cintura (o que pressupõe a adiposidade abdominal) estão entre as principais características.

O processo inflamatório associado à obesidade causa a secreção de substâncias pelo tecido adiposo, as quais são capazes de elevar o risco cardiovascular.

Reduzir a ocorrência da síndrome metabólica e controlar o processo inflamatório associado à obesidade é tão ou mais importante do que tratar o sobrepeso. Foi o que concluiu a pesquisa realizada pela nutricionista Deborah Masqui em sua tese de doutorado, sob a orientação de Ana Dâmaso, do programa de pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). O estudo avaliou 69 adolescentes obesos, todos voluntários do Grupo de Estudos da Obesidade, que é ligado ao programa da universidade.

Em excesso

O excesso de gordura corporal, principalmente na região abdominal, está diretamente ligado ao processo inflamatório. "A gordura em excesso, principalmente visceral, secreta substâncias consideradas pró-inflamatórias, que são denominadas adipocinas (proteínas), como a leptina, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), a interleucina-6 (IL-6) e também o PAI-1, que forma trombos ou coágulos".

Nesse contexto, complementa Ana Dâmaso, "há um aumento da adiponectina, que é uma adipocina secretada pelo tecido adiposo, cuja ação é anti-inflamatória e que se encontra reduzida na obesidade".

A alteração desses marcadores eleva o risco de doenças cardiovasculares em longo prazo, pois eles atuam em diversas fases do processo de aterosclerose, que é o acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias. Tal condição restringe o fluxo sanguíneo e pode levar a graves complicações de saúde.

Marcador da síndrome

Para a Profa. Ana Dâmaso, o controle do processo inflamatório (associado à obesidade) é tão ou mais importante do que o controle do peso.

O estudo mostrou que, além de reduzir a espessura da carótida (marcador subclínico importante da aterosclerose), foi possível controlar a razão leptina/adiponectina e obter o controle do processo inflamatório, o que favoreceu a redução da espessura da carótida e de todos os marcadores da síndrome metabólica.

Comprovações

Os voluntários selecionados foram divididos em dois grupos, ambos com diagnóstico de obesidade: um com 19 portadores de síndrome, e outro com 50 indivíduos isentos da doença. Todos se submeteram a tratamento de um ano (exercícios físicos três vezes por semana; intervenção nutricional em grupos semanais, associada à consulta individual/mês; atendimento psicológico semanal individual ou em grupos; avaliação por fisioterapeuta e acompanhamento mensal por um endocrinologista).

Os resultados da pesquisa mostraram índices que merecem destaque: pressões sistólica (passou de 34,8% para 8,7%) e diastólica (de 21,7% para 1,45%), enquanto no excesso de insulina (de 53,6% para 23,2%) e de leptina (de 66,7% para 40,6%) no sangue. Foi verificado também um aumento dos níveis de adiponectina, sendo controlada a produção de leptina e o processo inflamatório.