A organização Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado cometido
este sábado contra uma manifestação da minoria xiita dos hazara em
Cabul, no Afeganistão. O ataque, realizado por homens-bomba, deixou mais
de 80 mortos e 200 feridos.
"Dois combatentes do EI detonaram
coletes com explosivos em uma concentração de xiitas na região de
Dehmazang, em Cabul" da capital afegã, indicou o EI através de sua
agência de notícias Amaq. A organização, de orientação sunita, enxerga
os xiitas como inimigos.
Segundo um balanço do Ministério da Saúde, ao menos 80 mortos e 231 feridos foram atingidos.
Um fotógrafo da agência AFP que estava no local do massacre narrou as
cenas. "Havia dezenas de corpos, podia contar mais de vinte, alguns
totalmente desmembrados (...) Havia poças de sangue por todas as
partes".
"Ouvi um barulho ensurdecedor muito próximo a mim.
Havia muitos mortos e feridos, não consigo entender onde estou", disse à
AFP um dos organizadores do protesto, Jawad Naji.
Manifestação era pacífica
O ataque aconteceu por volta das 14h30 (hora local; 7h de Brasília)
durante uma manifestação de milhares de afegãos, em sua maioria hazaras,
que protestavam contra um projeto de energia do governo e transcorria
pacificamente em meio a fortes medidas de segurança, que impediram que a
manifestação se aproximasse do palácio presidencial.
A manifestação transcorria pacificamente e era comandada por muitas mulheres.
Depois da carnificina, muitos sobreviventes expressavam sua indignação
contra a polícia, que isolou com cordas a área, segundo o fotógrafo da
AFP.
O presidente Ghani expressou sua "tristeza" e denunciou a
presença de "terrorista infiltrados em um protesto pacífico". Entre as
vítimas, acrescentou, destacavam-se membros das forças de segurança
afegãs.
As milícias dos talibãs, rivais do EI, negaram
envolvimento no caso e o atribuíram a "tentativas de criar divisões no
seio do povo afegão".
A minoria hazara, com aproximadamente três
milhões de membros, sofreu décadas de perseguições e milhares deles
foram exterminados no fim dos anos 1990 pela rede Al-Qaeda e pelos
talibãs, em sua grande maioria pashtuns sunitas, que governavam o país.
A segurança no Afeganistão diminuiu gravemente nos últimos meses, após a
partida de muitas tropas estrangeiras. Essa piora na situação obrigou
os Estados Unidos a mudarem de planos, mantendo 8.400 soldados no país,
ao invés dos 5.500 inicialmente previstos.
O atentado de 30 de junho, contra um comboio de recrutas da polícias, deixou trinta mortos e cerca de 80 feridos.
Itamaraty condena ataque
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o governo
brasileiro recebeu "com consternação" a notícia de mais um atentado no
Afeganistão.
"O governo brasileiro condena nos termos mais
veementes este ato de barbárie e expressa sua solidariedade às famílias
das vítimas, ao povo e ao governo afegãos. O Brasil apoia firmemente os
esforços do governo do Afeganistão no sentido de conter atos de
violência sectária. Tais esforços terão reflexos importantes para a
estabilidade de toda a região", diz o comunicado.
(Com agências internacionais)