Foi confirmado, ontem, mais um caso de meningite do tipo meningocócica entre os detentos da Cadeia Pública do Município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. Este é o segundo registro na unidade prisional desde a última sexta-feira (3), quando o local foi interditado pela Justiça para bloqueio epidemiológico após um dos presos ser diagnosticado com a doença. Os enfermos estão internados no Hospital São José (HSJ), em Fortaleza. O centro, referência no tratamento contra a meningite no Estado, já atendeu, neste ano, a 37 ocorrências.
Roberto da Justa, diretor-geral do HSJ, afirma que o estado de saúde dos detentos é considerado estável. Segundo ele, a terapia para combater a meningite inclui medicação com base em antibióticos e dura aproximadamente dez dias. Depois desse período, haverá uma nova análise dos pacientes para determinar se poderão receber alta médica.
Durante o fim de semana, de acordo com a Secretaria de Justiça do Ceará (Sejus) outros três presos apresentaram sintomas semelhantes aos da doença, mas tiveram as suspeitas descartadas. Como ação preventiva, uma equipe de saúde esteve na cadeia de Aquiraz na manhã de ontem realizando a coleta de sangue dos internos para exame. No momento, 103 pessoas estão encarceradas na unidade.
Conforme Roberto da Justa, a meningite meningocócica é o tipo mais grave da doença e, dentre os casos atendidos pelo Hospital São José, tem taxa de letalidade equivalente a 20%. A infecção é provocada por bactéria e transmitida pelo contato direto com pessoas contaminadas. Por esse motivo, segundo o diretor-geral, locais fechados, como as unidades prisionais, são propícios a desenvolverem surtos.
"A doença pode ser transmitida por secreções, como as gotículas eliminadas pela saliva. No caso dos presos, como estão na mesma cela, a transmissão é mais provável", diz o médico.
A Secretaria da Saúde do Estado não possui dados atualizados sobre ocorrências de meningite no Ceará. O último boletim epidemiológico divulgado pelo órgão data de agosto do ano passado. Até então, em 2014, haviam sido contabilizados 177 registros da doença, em geral.
Os dados aos quais o Diário do Nordeste teve acesso foram fornecidos pelo Hospital São José. Neste ano, a unidade já atendeu 37 casos de todos os tipos de meningite. Os dois detentos da cadeia de Aquiraz foram as primeiras ocorrências de meningite meningocócica do ano. Até agora, não houve óbitos no HSJ.
No ano passado, até o mês de dezembro, 274 pessoas chegaram ao hospital com a doença. Do total, 14 apresentaram o tipo meningocócico e, destas, três morreram. Em 2013, foram 366 casos ao todo, sendo 32 de meningite meningocócica. Oito pessoas vieram a óbito.
Segundo o diretor-geral da unidade, o número de casos vem demonstrando redução desde o início da vacinação contra a infecção. "A principal forma de proteção contra a meningite meningocócica é a vacina. A última epidemia que tivemos no Ceará foi em 1994. De lá para cá, por conta da imunização, o número de casos caiu e sempre ficou abaixo de 50 ou 100", afirma Roberto da Justa.
O médico afirma que, é realizado um bloqueio epidemiológico com o uso de antibióticos profiláticos. A expectativa é que a infecção não se dissemine. "Fazendo a profilaxia no tempo correto, podemos impedir que evolua para um surto. Os outros presos já receberam medicamentos e os agentes penitenciários também", explica.
A Secretaria de Justiça do Ceará (Sejus) não dispõe de dados sobre o perfil e a quantidade de detentos acometidos por doenças infecciosas. No entanto, o Censo Penitenciário de 2014, divulgado em dezembro do ano passado, revelou que, dos 12.040 presidiários do Estado, pelo menos 26,4% têm doenças crônicas e 5,5% possuem doenças sexualmente transmissíveis.
Dentre as doenças crônicas mais comuns, estão os problemas respiratórios (10,4%), problemas cardíacos (4,3), e as lesões musculares ou em tendões (2,6%). Nessa lista, também se encontram enfermidades como tuberculose, hipertensão, diabetes, hérnia e outros.
Em relação às DSTs, 630 homens e 36 mulheres apresentam alguma doença. Os detentos com idade entre 62 e 65 anos são os que possuem maior índice de enfermidade, totalizando 18,4% dos presos em geral.
Segundo a Sejus, há um calendário de ações de saúde realizadas nas unidades prisionais juntamente à Secretaria de Saúde do Estado (Sesa).