Rubens Sabino Silva, que interpretou o traficante Neguinho no filme "Cidade de Deus", diz que a Cracolândia é um "pedacinho do inferno" (veja vídeo acima).
Hoje morador de rua, ele diz que foi parar no Centro de São Paulo por causa do vício. Ele foi um dos afetados pela nova fase da Operação Braços Abertos, que desfez barracas improvisadas sobre calçadas e teve confronto entre policiais e dependentes.
Com passaporte na mão e uma mochila de golfe nas costas, ele conversou com o repórter Alberto Gaspar, da TV Globo, sobre os planos para o futuro em Portugal. A mochila ele conta ter comprado nas próprias ruas da Cracolândia por R$ 25. Já o passaporte diz que será usado na viagem para Portugal no dia 11 de junho. A mudança será patrocinada por um empresário que o apoiará na empreitada de trabalhar como garçom.
Eu acho que para acabar com isso aqui tinha que legalizar talvez a maconha. Não tem como tratar essa galera daqui usuário como caso de polícia, caso de repressão e criminalização. Aqui é questão de saúde pública, questão de educação, de amadurecimento da sociedade" Rubens Sabino Silva, morador de rua, ator no filme Cidade de Deus.
Rubens Silva disse estar na Cracolândia há quatro anos. "Eu vim para cá por causa do crack mesmo", conta. Mas ele afirma ter largado o crack pouco antes do carnaval deste ano.
"Aqui é um pedacinho do inferno", disse Rubens Silva. Apesar da mudança pessoal, ele diz que viu poucas transformações no cenário da Cracolândia desde a sua chegada.
"Eu acho que para acabar com isso aqui tinha que legalizar talvez a maconha. Por que eu acho que tinha que legalizar a maconha? Não tem como tratar essa galera daqui usuário como caso de polícia, caso de repressão e criminalização. Aqui é questão de saúde pública, questão de educação, de amadurecimento da sociedade", disse.
Combate ao crack
Desde o início da manhã desta quarta-feira, a Prefeitura de São Paulo realiza uma nova fase do programa "De Braços Abertos", que combate o uso do crack na região. Os moradores de rua foram retirados das barracas onde estavam durante uma força-tarefa e receberam orientação sobre como entrar no programa.
Nessa nova fase são oferecidas até 150 ovas vagas. Em janeiro, quando completou um ano, o programa atendia 453 pessoas. O programa foi estruturado em frentes de trabalho de zeladoria com remuneração de R$ 15 por dia, atividades de capacitação, três alimentações diárias e vagas em hotéis da região. Na nova fase, novos hotéis foram contratados para oferecer quartos aos participantes.
Nesta quarta, as barracas foram desmontadas, e o local onde elas estavam foi limpo. Segundo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), cerca de 30% dessas estruturas estavam sendo usadas para o tráfico de drogas.
O prefeito afirmou que o trabalho da Prefeitura será feito em conjunto com a polícia. "Nós não conseguimos trabalhar com assistência, trabalho e saúde na presença de um traficante armado." Haddad já conversou com o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, que teria dito ao prefeito que queria "asfixiar o tráfico na região".
O petista disse que o programa, lançado em janeiro do ano passado, funcionou bem até agosto. Segundo ele, porém, o efetivo da Polícia Militar baixou em outubro, o que permitiu a volta de traficantes.