Kuala Lumpur. Autoridades que investigam o desaparecimento do avião da Malaysia Airlines com 239 pessoas a bordo suspeitam que o Boeing 777-200ER foi sequestrado ou alvo de explosão. Ontem, o Vietnã informou ter encontrado possíveis destroços da aeronave.
Investigadores malaios, apoiados pela polícia federal norte-americana, FBI, estão investigando as identidades de quatro passageiros do voo, que usaram passaportes falsos.
A lista de passageiros divulgada pela companhia aérea incluiu os nomes de dois europeus - o austríaco Christian Kozel e o italiano Luigi Maraldi - que, de acordo com as suas chancelarias, não estavam no avião. Ambos, aparentemente, tiveram seus passaportes roubados na Tailândia nos últimos dois anos.
Segundo as agências de notícia, homens usando passaportes ilegais tinham comprado bilhetes juntos e deveriam voar para a Europa a partir de Pequim, o que significa que não tiveram que solicitar um visto chinês ou passar por verificações adicionais.
A agência internacional de polícia, Interpol, também confirmou que ao menos dois passaportes registrados nos arquivos como perdidos ou roubados foram usados por passageiros no voo. Uma porta-voz da Interpol disse que uma verificação de todos os documentos utilizados para embarcar no avião havia revelado mais "passaportes suspeitos" que estavam sendo mais investigados.
A Interpol mantém um vasto banco de dados de documentos de viagem perdidos e roubados mais de 40 milhões, e desde há muito reclama que os países membros deveriam utilizá-los mais para impedir que as pessoas atravessem as fronteiras com documentos falsos.
A organização policial mundial confirmou que haviam adicionado os passaportes de Maraldi de Kozel ao banco de dados após os roubo em 2012 e 2013, respectivamente. Mas disse que nenhum país tinha consultado o banco de dados para verificar qualquer um deles, desde o momento em que foram roubados.
"Embora seja muito cedo para especular sobre qualquer conexão entre esses passaportes roubados e o avião desaparecido, é claramente uma grande preocupação que qualquer passageiro consiga embarcar em um voo internacional usando passaporte roubado listado nos bancos de dados da Interpol", disse o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble.
O ministro dos Transportes da Malásia, Hishamuddin Hussein, disse que as autoridades também estavam checando as identidades dos outros dois passageiros. Ele disse que também estava buscando ajuda do FBI. No entanto, um ataque é apenas uma das possibilidades investigadas. "Nós estamos olhando para todas as possibilidades", disse ele. "Nosso foco agora é encontrar o avião", acrescentou.
O momento do incidente, uma semana depois que homens armados com facas mataram pelo menos 29 pessoas em uma estação de trem na cidade chinesa de Kunming, criou suspeitas de que militantes da minoria muçulmana Uighur, da China, possam estar envolvidos no desaparecimento do avião.
Uma das autoridades malaias afirmou que as autoridades não descartam o envolvimento do Uighur no desaparecimento do jato da Malaysian Airlines, citando que os membros do grupo foram deportados da Malásia para a China em 2011 e 2012 por portarem passaportes falsos. "Isso não está sendo descartado. Nós já deportamos membros do Uighur que tinham passaportes falsos. É muito cedo para dizer se há uma ligação", disse.
Mais de 48 horas após o último contato com o voo MH370, o seu destino ainda é cercado de mistério. O chefe da Força Aérea da Malásia disse que o avião com destino a Pequim pode ter se desviado de sua rota programada antes de desaparecer dos radares. "O fato de não termos encontrado quaisquer destroços até agora parece indicar que a aeronave provavelmente pode ter se desintegrado a cerca de 35.000 pés", uma fonte envolvida nas investigações na Malásia.
Desintegração
Se o avião tivesse mergulhado intacto dessa altura, rompendo-se apenas no impacto com a água, as equipes de busca deveriam encontrar uma quantidade bastante concentrada de destroços, disse a fonte, em condição de anonimato, porque não foi autorizada a falar publicamente sobre a investigação.
A fonte falou pouco antes das autoridades vietnamitas dizerem que um avião militar tinha avistado um objeto, que suspeitava que fosse parte do avião desaparecido.
Questionado sobre a possibilidade de ter havido uma explosão, como uma bomba, a fonte disse que não havia ainda nenhuma evidência de que tenha acontecido um ataque e que a aeronave poderia ter se partido devido a problemas mecânicos.
Vestígios no mar
Dezenas de embarcações militares e civis têm cruzando as águas no trajeto da aeronave, mas não encontraram nenhum traço confirmado do avião perdido, embora vestígios de óleo no mar tenham sido registrados no sul do Vietnã e leste da Malásia.
Ontem, a Autoridade de Aviação Civil do Vietnã disse em seu site que um avião da Marinha vietnamita avistou um objeto no mar que suspeita ser parte da aeronave, mas que estava muito escuro para ter certeza. "Sobre a possibilidade de sequestro, nós não estamos descartando qualquer possibilidade", disse a repórteres.
O Boeing 777-200ER decolou na tarde de sábado do Aeroporto de Kuala Lumpur, com 227 passageiros e 12 tripulação a bordo.
Fique por dentro
Tragédia lembra queda de jato da Air France
O desastre é parecido com o misterioso desaparecimento do voo 447 da Air France, que matou as 228 pessoas a bordo. As investigações não conseguiram determinar de forma conclusiva uma razão para aquele acidente, até as caixas pretas do avião, serem recuperadas dois anos depois do acidente. Segundo os especialistas, o acidente com o voo 447 lhes ensinou muito quanto aos perigos de uma especulação prematura, diversos motivos foram levantados para a causa do acidente e, dois anos mais tarde, as autoridades concluíram que um erro do piloto também teve um papel importante na causa do acidente.
Aeronave já havia tido problemas
Kuala Lumpur. A Malaysia Airlines informou ontem que o Boeing 777-200, que desapareceu com 239 pessoas a bordo, teve problema em uma das asas em 2012, mas foi completamente reparado e teve "luz verde" para voar. O incidente de 2012 ocorreu em leve colisão com uma aeronave que estava na pista do Aeroporto Internacional de Shanghai Pudong, segundo relatos anteriores.
"O avião tinha uma parte da asa cortada. Uma porção, possivelmente 1 metro, foi arrancada", disse aos jornalistas o presidente da companhia, Ahmad Jauhari, acrescentando que o problema foi reparado pela Boeing. Ele disse ainda que a Boeing deu o aval, com aprovação de várias autoridades, garantindo que o avião "estava seguro para voar".
O Boeing 777-200, que fazia o voo MH370, de Kuala Lumpur a Pequim, teve seu último contato com controladores de tráfego aéreo a 120 milhas náuticas a largo da costa leste da cidade de Kota Bharu, na Malásia. O site de rastreamento de voo flightaware.Com mostrou que ele voou para o nordeste após a decolagem, subiu a 35.000 pés (10.670 metros) e ainda estava subindo quando desapareceu do rastreamento. Não houve relatos de mau tempo.
Parentes dos passageiros partem hoje para Kuala Lumpur, capital malaia, onde serão assistidos pela companhia.
Segundo as autoridades malaias, é possível que os pilotos tenham tentado voltar a Kuala Lumpur, uma vez que as informações de radar indicam mudança de rota.
O súbito desaparecimento do avião representa um dos tipos mais raros de desastres da aviação. "Aviões não caem quando estão numa rota como essa", disse Paul Hayes, diretor de Segurança da Flight Global Ascend, uma empresa de consultoria de aviação, baseada na Inglaterra.
Apenas outro desastre recente teve características parecidas: a perda do voo 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico, em 2009, na rota entre o Rio de Janeiro e Paris.