O Ceará não está entre os estados brasileiros em áreas com recomendação
de vacinação contra a febre amarela. No entanto, o Estado está em
alerta para evitar que a moléstia, que já atingiu 330 municípios do
País, chegue aqui. O avanço do surto de febre amarela em território
nacional foi rápido e já chegou em territórios do Nordeste, em áreas do
Piauí e da Bahia. Por isso, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) criou
um protocolo para fazer o bloqueio da doença.
"A principal ação que o Ceará está fazendo é uma barreira de proteção
para todo cidadão que sai daqui para essas áreas epidêmicas ou
potencialmente epidêmicas e para aqueles que chegam em nosso território.
Toda chegada ao Ceará hoje está sendo monitorada para observar
potenciais sinais de alerta nessa população, para que a vigilância
epidemiológica possa fazer o bloqueio com vacina. Já tivemos situações
desse jeito no Ceará e foi muito efetivo", explica o titular da Sesa,
Henrique Javi.
A preocupação, segundo o gestor, é com o vetor da febre amarela urbana,
que é o mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor de dengue, zika e
chikungunya. "Na realidade, a gente tem que ter uma consciência de
alerta. Há três anos, acumulamos preocupação em relação a essa forma de
transmissão viral, principalmente por vetores de insetos, notadamente o
Aedes aegypti. Não podemos negligenciar, nem ente público, nem cidadão.
As ações todas precisam ser comungadas", conclama.
A gravidade do surto - que já matou pelo menos 190 pessoas - só é
amenizada porque todos os casos notificados são silvestres. As infecções
ocorrem em zonas rurais e/ou mata. Se fosse a versão urbana, que não
acontece desde 1942 no País, a preocupação seria ainda maior.
A diferença entre os dois tipos da doença é o vetor. Na cidade, é
transmitida pelo Aedes aegypti. Na mata, são os mosquitos dos gêneros
Haemagogus e Sabethes quem transmitem o vírus. Para o gerente da célula
de vigilância ambiental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Nélio
Moraes, a grande preocupação é que a enfermidade chegue ao ambiente
urbano, fazendo do Aedes aegypti seu poderoso vetor. "Estamos tendo
estudos sobre febre chikungunya, que hoje já mata mais que a dengue. Ele
já está transmitindo três enfermidades e, com a febre amarela, pode
agregar mais um vírus. Não temos essa convivência ainda no momento para
dimensionar a capacidade desse vetor, que é imensa. Ele já desafiou a
tudo e a todos. No entanto, se a corda apertar, temos vacinas".
Velocidade
A Vigilância, conforme Nélio, tem que estar atenta porque essas doenças
têm uma velocidade e uma capacidade grande. "Há um cenário de
globalização muito forte. Mas hoje se pode ter mecanismos de vigilância
para diagnóstico precoce", aponta. Já o infectologista Robério Leite
argumenta que não há motivo para pânico. Ele aponta que a localização
geográfica e a ecologia do Ceará são uma barreira natural para a
proliferação da doença no território.
"Não acho que seja uma situação de risco iminente. Mesmo havendo
registro nos estados vizinhos, acho pouco provável que se consiga
avançar como em Minas Gerais. Esse avanço vem pelas bacias
hidrográficas. Essa via me parece que não temos. Também houve o bloqueio
mais efetivo com a obrigatoriedade de vacina em algumas regiões",
tranquiliza. No entanto, o infectologista alerta que é preciso manter a
vacinação em dia, sobretudo para quem se desloca para regiões de surto.
"Há um plano do Ministério da Saúde para voltar a se adotar a vacina da
febre amarela no calendário vacinal das crianças no Brasil. Fecharia o
cerco para a reemergência".
O secretário da Saúde, Henrique Javi, diz que, no momento, não há
orientação para realizar imunização em massa no Estado. "Estamos
esperando uma posição do Ministério sobre vacinação em massa. Parte da
população do Ceará já foi vacinada em outro momento, o que dá certa
segurança, mas tem uma população suscetível importante".
Conforme Javi, "existe uma discussão nacional que temos grave
dificuldade em relação ao volume de vacina para imunização em massa. A
maior parte do estoque de vacinas está sendo deslocada para regiões com
suscetibilidade maior. Recebemos vacinas para cadeia de bloqueio. Tem um
fato técnico impeditivo para esse tipo de ação".
Fique por dentro
Ministério tem 9,5 mi de doses de vacinas
O Ministério da Saúde passa a adotar dose única da vacina contra a
febre amarela para as áreas com recomendação de vacinação em todo o
País. A medida é válida a partir deste mês de abril e está de acordo com
orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir de agora, as
pessoas que já tomaram uma dose não precisam se vacinar mais contra a
febre amarela ao longo da vida.
O Ministério da Saúde conta com um quantitativo de 9,5 milhões de doses
da vacina de febre amarela para todo o País. A vacinação de rotina para
febre amarela é ofertada em 19 estados (Acre, Amazonas, Amapá, Pará,
Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) com recomendação para
imunização. Vale destacar que na Bahia, Piauí, São Paulo, Paraná, Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, a vacinação não ocorre em todos os
municípios. Além das áreas com recomendação, neste momento, também está
sendo vacinada, de forma escalonada, a população do Rio de Janeiro e
Espírito Santo. Todas as pessoas que vivem nesses locais devem tomar uma
dose da vacina ao longo da vida.